A epilepsia pode
iniciar-se em qualquer idade, desde o recém nascido ao idoso. Existem diversos
tipos e causas. Esta diversidade é particularmente grande na infância. Nesta
idade, a maioria das epilepsias são as chamadas benignas, idiopáticas ou de origem
genética. Nestes casos é possível a cura após alguns anos de tratamento. Tratando epilepsias há vinte e cinco
anos, ainda hoje me emociono com a felicidade dos pais no momento em que
dissemos que seu filho está curado e que
iremos iniciar a retirada da medicação.
Mesmo nas epilepsias
em que a cura não é esperada, na maioria das vezes os sintomas podem ser
completamente controlados com medicamentos e a criança leva uma vida normal. Assim, em até 80% das epilepsias obtemos o adequado controle sem prejuízo no desenvolvimento ou na aprendizagem da criança. Os pais devem ser tranquilizados de que com
raras exceções, as crises epilépticas não causam danos ao cérebro da criança. O
médico neuropediatra fará sempre o possível para que a criança obtenha o
controle completo das crises. No entanto, é importante ressaltar que existe
certa imprevisibilidade nas epilepsias e algumas crises poderão ocorrer.
Existem epilepsias
que são causadas por uma lesão prévia no cérebro. Esta lesão poderá também causar outros
comprometimentos neurológicos. São as chamadas epilepsias sintomáticas . Assim,
nos casos em que há atrasos de desenvolvimento e deficiências, estas são
geralmente causadas pela lesão cerebral prévia ou por uma síndrome genética e
não pela epilepsia. Algumas delas podem ser de difícil controle e a criança pode ainda apresentar
crises mesmo com a combinação de dois ou mais medicamentos. Mesmo nestes casos,
as crises não causam lesões adicionais ao cérebro.
Entretanto, existe um
grupo realmente muito grave de epilepsias, as chamadas “encefalopatias epilépticas”. São raras,
mas neste grupo a ocorrência de crises pode realmente causar um atraso no
desenvolvimento da criança ou agravar o quadro de um atraso já existente. A mais grave delas é a Síndrome de West. A
história típica é a de um bebe entre 6 e
18 meses previamente normal ou já com algum comprometimento decorrente de uma
lesão cerebral que subitamente inicia com crises do tipo espasmos em flexão. O bebe faz uma súbita contração de tronco
e membros que dura apenas um segundo, porém se repete várias vezes ao dia. O
eletroencefalograma apresenta uma alteração típica chamada de hipsarritmia. Após o início das crises, a criança irá
apresentar uma regressão no seu desenvolvimento: para de sorrir, de interagir e de progredir
nas aquisições motoras. É importante reconhecer rapidamente este tipo de crise
que por ser muito breve muitas vezes é confundida com um susto ou uma cólica e
isto atrasa o início do tratamento. Trata-se de uma emergência neurológica. O
neuropediatra deverá interromper as crises a todo custo mais breve possível para
evitar que o atraso no desenvolvimento se agrave. Se em algumas semanas não
houver o controle com medicamentos orais a conduta é utilizar o ACTH, um medicamento
de aplicação intramuscular.
Assim, em contraste
com a benignidade da maioria das epilepsias, os tipos mais graves também
ocorrem na infância e diante de tanta diversidade é importante que as
epilepsias sejam tratadas pelo especialista. Felizmente na maioria das vezes
podemos ter uma postura positiva e tranquilizar os pais. Por ouro lado é
importante saber reconhecer as epilepsias graves em que o prognóstico depende
do rápido reconhecimento e tratamento adequados.
Dra. Lucia
Machado Haertel - Neuropediatra e Epileptologista
Neurosaude - Blumenau (47) 3322 1522
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