sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

EPILEPSIA NA INFÂNCIA

         A epilepsia pode iniciar-se em qualquer idade, desde o recém nascido ao idoso. Existem diversos tipos e causas. Esta diversidade é particularmente grande na infância. Nesta idade, a maioria das epilepsias são as chamadas benignas, idiopáticas ou de origem genética. Nestes casos é possível a cura após alguns anos de tratamento.  Tratando epilepsias há vinte e cinco anos, ainda hoje me emociono com a felicidade dos pais no momento em que dissemos que seu filho está curado  e que iremos iniciar a retirada da medicação.  
Mesmo nas epilepsias em que a cura não é esperada, na maioria das vezes os sintomas podem ser completamente controlados com medicamentos e a criança leva uma vida normal. Assim, em até  80% das epilepsias obtemos o adequado controle sem prejuízo no desenvolvimento ou na aprendizagem da criança.   Os pais devem ser tranquilizados de que com raras exceções, as crises epilépticas não causam danos ao cérebro da criança. O médico neuropediatra fará sempre o possível para que a criança obtenha o controle completo das crises. No entanto, é importante ressaltar que existe certa imprevisibilidade nas epilepsias e algumas crises poderão ocorrer.
Existem epilepsias que são causadas por uma lesão prévia no cérebro.  Esta lesão poderá também causar outros comprometimentos neurológicos. São as chamadas epilepsias sintomáticas . Assim, nos casos em que há atrasos de desenvolvimento e deficiências, estas são geralmente causadas pela lesão cerebral prévia ou por uma síndrome genética e não pela epilepsia.  Algumas delas podem ser de difícil controle e a criança pode ainda apresentar crises mesmo com a combinação de dois ou mais medicamentos. Mesmo nestes casos, as crises  não causam lesões adicionais ao cérebro. 
Entretanto, existe um grupo realmente muito grave de epilepsias, as chamadas “encefalopatias epilépticas”. São raras, mas neste grupo a ocorrência de crises pode realmente causar um atraso no desenvolvimento da criança ou agravar o quadro de um atraso já existente.   A mais grave delas é a Síndrome de West. A história típica é a de um bebe entre 6  e 18 meses previamente normal ou já com algum comprometimento decorrente de uma lesão cerebral que subitamente inicia com crises do tipo espasmos  em flexão. O bebe faz uma súbita contração de tronco e membros que dura apenas um segundo, porém se repete várias vezes ao dia. O eletroencefalograma apresenta uma alteração típica chamada de hipsarritmia.  Após o início das crises, a criança irá apresentar uma regressão no seu desenvolvimento:  para de sorrir, de interagir e de progredir nas aquisições motoras. É importante reconhecer rapidamente este tipo de crise que por ser muito breve muitas vezes é confundida com um susto ou uma cólica e isto atrasa o início do tratamento.  Trata-se de uma emergência neurológica. O neuropediatra deverá interromper as crises a todo custo mais breve possível para evitar que o atraso no desenvolvimento se agrave. Se em algumas semanas não houver o controle com medicamentos orais a conduta é utilizar o ACTH, um medicamento de aplicação intramuscular.

Assim, em contraste com a benignidade da maioria das epilepsias, os tipos mais graves também ocorrem na infância e diante de tanta diversidade é importante que as epilepsias sejam tratadas pelo especialista. Felizmente na maioria das vezes podemos ter uma postura positiva e tranquilizar os pais. Por ouro lado é importante saber reconhecer as epilepsias graves em que o prognóstico depende do rápido reconhecimento e tratamento adequados.

Dra. Lucia Machado Haertel - Neuropediatra e Epileptologista
Neurosaude - Blumenau (47) 3322 1522



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

DESMISTIFICANDO A EPILEPSIA

A ocorrência de crises epilépticas é sempre um motivo de grande angustia para os pais. Nós,  especialistas,  devemos orienta-los para que possam lidar da melhor forma possível com esta nova situação. É importante saber que epilepsia não é um transtorno único. Existem diversos tipos e diversas causas.  Existem casos extremamente benignos em há a cura espontânea e casos mais raros de epilepsias graves e até intratáveis. É importante conhecer os diversos tipos de epilepsia e saber interpretar bem o eletroencefalograma para escolher o melhor tratamento para cada caso.    
As epilepsias tem controle adequado com medicamentos em aproximadamente  80% dos casos e os pacientes podem levar uma vida praticamente normal. É importante ressaltar que a grande maioria das crises não causa lesão cerebral nem atraso no desenvolvimento da criança. Este risco só existe nos casos de crises muito prolongadas, ( o estado de mal epiléptico) , ou nas chamadas encefalopatias epilépticas, um grupo de epilepsias raras e muito graves sendo a mais conhecida delas , a Síndrome de West.    
 Assim,  não devemos tomar a exceção como regra e deixar os pais em pânico! É comum ouvir de leigos e até de médicos não especialistas que cada crise “queima” uma parte do cérebro!  Isto não é verdade!  O risco maior em uma crise são os acidentes: quedas, afogamento ou aspiração . Portanto, alguns cuidados são necessários. O especialista deve esclarecer o risco inerente a cada tipo de epilepsia, orientando e ao mesmo tempo tranquilizando os pais que algumas crises poderão ocorrer, principalmente no início do tratamento. É necessário manter a calma e saber o que fazer neste momento.
                O objetivo do tratamento será sempre tentar obter o controle completo das crises e preservar a qualidade de vida dos pacientes.  A prova de que se pode levar uma vida normal com epilepsia é o grande número de celebridades portadoras:  Alexandre o Grande,  Júlio César (Imperador de Roma), Alfred NobelMachado de AssisNapoleão Bonaparte,  D.PedroIVan Gogh.
                E naquela época, nem havia tratamento!

 Dra. Lucia Machado Haertel - Neurologista Infantil e especialista em epilepsias e eletrencefalografia.
 Neurosaúde - Blumenau- 3322 1522 

Veja também neste Blog o artigo: Machado de Assis, o epiléptico. 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Como iniciar bem o ano letivo ?

                                                           Dra. Lucia Machado Haertel
Mais um ano letivo se inicia e com ele o esforço diário para fazer os neurônios voltarem a funcionar a todo vapor!  Não espere aqui alguma dica milagrosa do tipo “Como turbinar a memória em 10 passos”. Nosso cérebro não faz milagres! Aprender exigirá esforço e dedicação.
O cérebro não é um computador e, portanto, não grava tudo. Ele próprio faz uma seleção do que vai ser memorizado e o que será esquecido.  O que podemos fazer é direcionar essa seleção através do estudo eficiente. Para isto as palavras chave são: motivação e atenção.
Sem maturidade para entender a importância do estudo, crianças mais novas só entendem que: estudar é legal ou estudar é chato.  Se acharem chato, podem se recusar a aprender. Aprendemos melhor aquilo que gostamos. Portanto,  pais e professores devem tornar o momento do estudo agradável  para que as crianças criem um vínculo positivo com a aprendizagem. Crianças não aprendem sob pressão. É preciso despertar a motivação e dar reforço positivo para que a hora da tarefa não seja uma tortura!
Na adolescência, o cérebro atinge o auge do seu desenvolvimento e se torna uma potente máquina de aprender. Porém, outras habilidades, também crescem nessa idade e as notas podem não decolar. É preciso vencer a concorrência desleal dos iphones, face, insta... Os adolescentes costumam pensar que  conseguem estudar com TV e celular ligados. No entanto, as frequentes interrupções, ou seja , a distração, irá comprometer a memorização. O cérebro não compartilha a atenção. Ele só é capaz de processar um estímulo por vez e necessita de dedicação exclusiva.
Há também a pegadinha cerebral da memória de curta duração, que mantém o assunto recém estudado em mente por algumas horas, dando aquela sensação de “já estou sabendo tudo”.  Porém, a memória definitiva é altamente dependente da atenção e consolidada durante o sono.  Se você estudar apenas na véspera, não se surpreenda se “der um branco” na hora da prova. Não é “branco”, na verdade você não aprendeu!  
A memória depende da formação de novas sinapses e promove modificações na estrutura cerebral, portanto não é fácil memorizar! Existe o estudo pra fazer prova e o estudo para aprender. Decorar o resumo do colega na véspera da prova pode até garantir uma nota básica, mas após alguns dias, tudo será esquecido.  Para que uma ampla rede de sinapses seja formada, é necessário estudar a matéria inteira, compreendendo e elaborando o assunto através de diferentes meios - textos, filmes, figuras, debates, músicas -  fazendo associações com os conhecimentos previamente aprendidos. A repetição  é também necessária para “colar” a matéria no cérebro.  Depois disto, ele próprio estará apto a elaborar um resumo para ser revisado na véspera. Estabelecer um objetivo é fundamental para criar a motivação e assim,  todo o seu cérebro trabalhará para alcançá-lo. É importante começar a estudar desde o inicio do ano. O cérebro não "pega no tranco" no último bimestre. Lembrem-se: não deixem para estudar amanhã o que vocês podem estudar hoje!

Publicado também no Jornal de Santa Catarina, 08/02/2016   

PARA OBTER  MAIS DICAS SOBRE APRENDIZAGEM, LEIA O ARTIGO COMPLETO " VOLTA ÀS AULAS " NESTE BLOG 
LEIA TAMBÉM " O PRIMEIRO DIA DE AULA NA PRÉ ESCOLA".