segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

As Habênulas ( I )


Em uma noite como outra qualquer recebi um telefonema:   - Alô?
- Oi filhaaa! Tudo bem? - Falou a inconfundível e sempre bem-humorada voz de meu pai.
- Tudo bem, pai! E com você?
- Tudo ótimo! Tenho uma grande novidade pra te contar. Descobriram a função das habênulas!
                - Nossa! É mesmo? Finalmente! Me conta tudo! – Disse-lhe com entusiasmo.

                Nossa conversa seguiu animada, como de costume. Entretanto, ao desligar o telefone parei para pensar. Que conversa surreal! Em que outro lugar do planeta poderia haver uma conversa entre pai e filha tão fluente sobre o tema “habênulas”?
O diálogo foi muito interessante. Lembrei-me de que a minha relação com as habênulas é antiga. Eu as conheci há 30 anos numa aula prática de neuroanatomia - eram tão bonitinhas! Fiquei curiosa e perguntei ao então professor (e meu pai), o Dr. Angelo Machado:
- Pai, o que são as habênulas?
- São um par de estruturas compostas pelo núcleo das habênulas, localizada no trígono das habênulas e unidas entre si, nesse ponto, pela comissura das habênulas - Disse-me ele, mostrando-me em um cérebro humano todas as estruturas mencionadas.
- Ah, entendi! Mas então, pra que servem as habênulas?
- Ninguém sabe, filha! Ainda não descobriram... – Lamentou.

                Imediatamente simpatizei-me com elas, ficando, ao mesmo tempo, muito intrigada. Eram duas estruturas tão redondinhas, bem delimitadas e conectadas! Tinham que servir para alguma coisa!
                Os anos se passaram, sendo que, de vez em quando, eu ouvia falar nelas. Nesses momentos, a velha pergunta me voltava à mente: Afinal, para que servem as habênulas? Em 30 anos de contato esporádico, já me sentia íntima das habênulas - tanto que esse nome não me soava mal. Com toda certeza, não chegaria ao ponto de usá-lo em meus filhos, mas depois de ter visto alguns nomes por aí – Wandercleysson, Dsornuelson e até um Rosbeef! – “Habênula Machado Haertel” não seria, de forma alguma, o pior deles.
Lembrei-me de que nomes estranhos eram mencionados no dia a dia de minha família tão naturalmente que não chamavam a nossa atenção. Afinal, meus pais são neurocientistas e membros titulares da Academia Brasileira de Ciências. Nem por isso eram pais ausentes, do tipo cientistas malucos. Minhas melhores lembranças de infância são os finais de semana - sempre havia alguma programação! Na época, sem computadores e internet, era necessária muita criatividade para entreter quatro filhos. Íamos à praia (sendo nossas preferidas as do sul da Bahia), aos parques de diversão, cidades históricas e à fazenda do meu avô, onde encontrávamos todos os tios e primos e tudo era sempre muito divertido. Meu pai, dotado de especial habilidade para lidar com crianças, vivia cercado pelos filhos, sobrinhos e  filhos de amigos. Mesmo a mais emburrada das crianças não conseguia resistir às suas palhaçadas! Não gerou surpresa alguma quando, como hobby, tornou-se escritor de literatura infantil, publicando mais de 40 livros. Pela sua obra, ganhou alguns prêmios de literatura e de divulgação científica para crianças, além de ter se tornado membro da Academia Mineira de Letras.
Mas voltando às queridas habênulas... Foram necessários 30 anos desde que fiz aquela pergunta ao meu pai para eu obter minha resposta, o que justifica meu entusiasmo pelas revelações do telefonema.
E você? Sabe para que servem as habênulas?
Aguardem a próxima postagem...


               


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