sexta-feira, 27 de junho de 2014

PORQUE O CÉREBRO VICIA?

         Dia  26 de junho, é o dia mundial de combate às drogas e é comum que as campanhas que visam desestimular seu consumo mostrem pessoas praticamente já destruídas por elas.  As imagens, embora fortes, podem não atingir os potenciais usuários e os iniciantes. Nesta fase eles estão com a autoestima elevada e um contraste tão extremo passa a sensação de que isto nunca acontecerá com eles. É preciso explicar como se chega lá e iniciar admitindo que as drogas causam prazer sim, e, por isso, viciam. Elas atuam diretamente sobre o sistema de recompensa do cérebro, o qual é responsável pela sensação de prazer nas situações cotidianas normais, gerada pela liberação de dopamina. Sob o efeito das drogas, a quantidade de dopamina liberada é muito maior, proporcionando uma sensação intensa de prazer.  Esta ativação exagerada, no entanto, é agressiva para o cérebro, que irá se defender. Como? Reduzindo o número de receptores para a dopamina.  Assim, mesmo que a quantidade liberada pela droga seja a mesma, apenas uma porção cada vez menor irá efetivamente se ligar aos neurônios. Este é o mecanismo da dependência e faz com que o sistema de recompensa do cérebro se torne menos sensível ás drogas. O usuário ficará também insensível aos prazeres do dia a dia, que serão abandonados.  Apenas doses maiores e mais frequentes da droga conseguirão proporcionar o bem-estar almejado. Assim, a pessoa em questão passará a apelar para drogas mais potentes e a vida passará a girar em torno de obtê-las. Existe uma predisposição genética que determina maior risco de dependência em determinados indivíduos e fatores ambientais agravantes. No entanto, a dependência é um mecanismo cerebral involuntário que ocorre automaticamente, independente da vontade e do controle do indivíduo. É o cérebro quem se vicia. Portanto, é possível, sim, chegar ao fundo do poço. Para evitar este desfecho, a única garantia é não  arriscar! Portanto, deixe o seu cérebro se “viciar“ apenas em atividades saudáveis como esportes, cultura, música, viagens, amizades... Drogas, é possível ser feliz sem elas! 


quarta-feira, 11 de junho de 2014

O BEBÊ QUE NÃO DORME!


Hoje vou abordar um assunto que costuma ser motivo de aflição para os pais: O sono (ou a insônia) dos bebês. Algumas mães chegam ao consultório desesperadas, com olheiras e claros sinais de privação crônica de sono. Ao seu lado, a criança, que supostamente não dorme, está geralmente alerta, ativa e feliz! O desconhecimento sobre a fisiologia do sono na infância faz com que a insônia, na maioria das vezes, seja favorecida pelos próprios pais.  

                                                    
 O sono é uma função do encéfalo que também passa por um processo de desenvolvimento. No recém nascido ele ocorre aleatoriamente em períodos de 2 a 4 horas ao longo das 24 horas. O amadurecimento é rápido. Aos 6 meses o sono já possui quatro fases e está sincronizado ao ciclo dia e noite. Nesta época diminui também a necessidade biológica de se alimentar à noite, ou seja, aos 6 meses os lactentes já estão biologicamente preparados para dormir a noite toda sem comer! Só faltou escrever isto no manual de instruções dos bebês! Até um ano há ainda a necessidade de dois cochilos diurnos e até os 3 ou 4 anos, um cochilo. Algumas crianças continuam a dormir depois do almoço por hábito o que não é problema. No entanto, nenhuma criança deve ser forçada a dormir de dia após esta idade. Faltou também avisar isto às creches!
 A partir dos 3 a 4 meses o intervalo entre as mamadas deve ser aumentado progressivamente. É a manutenção da rotina de recém nascidos e a introdução de outros (maus) hábitos pelos pais que atrapalha a consolidação natural do sono. A criança passar a ter dificuldade para iniciar o sono, acorda várias vezes e tem que ser alimentada.  Faltou também escrever no manual dos bebes que despertares breves durante o sono são fisiológicos, todo ser humano tem. Não dá pra desligar a criança da tomada e só religar de manha. Ela vai acordar! Estes despertares são breves e geralmente não nos recordamos deles pela manhã. Com a presença da mãe, no entanto, a criança se tornará alerta... pra brincar! Bebes só entendem duas coisas: o que é ruim e o que é bom. Ganhar colo, mamadeira e brincar é bom demais! Então, voltar a dormir porque? Acordar, chorar e ser prontamente atendida se tornará uma rotina. A criança terá dificuldade para voltar a dormir na ausência das circunstâncias que foram condicionadas ao início do sono como: ser embalada no colo, dormir mamando no peito ou mamadeira, luz acesa, presença da mãe na cama, dormir vendo televisão e até mesmo passear de carro pra pegar no sono. E assim toda noite, várias vezes por noite...
 É a  insônia por associações inadequadas ao início do sono. 







A criança deve aprender a dormir sozinha em condições que possam ser facilmente reproduzidas nos despertares fisiológicos. Assim voltarão a dormir sozinhas se acordarem no meio da noite.  É bom fazer isto antes que elas aprendam a sair do berço! A partir daí, se não forem prontamente atendidas, irão para a cama dos pais. Estabelecer rotinas ficará muito mais difícil e elas passarão decidir quando e como vão dormir, sempre testando os limites dos pais.



A fome condicionada
Para os pais, o choro dos bebes é sinal de fome e assim a cada berro a comida virá rapidinho! Os despertares fisiológicos geralmente ocorrem a cada 2 horas, após cada ciclo das quatro fases do sono. Assim serão até cinco mamadeiras ou o peito noite adentro quando não existe mais a necessidade biológica. O excesso de oferta alterará a secreção de hormônios e enzimas digestivas gerando a “fome aprendida ou condicionada”. A fome é um sinal emitido pelo cérebro quando o organismo está preparado para receber a comida condicionada àquele horário. Não indica portanto, uma necessidade e ainda passará a despertar a criança. Comer a noite além de causar cáries, otites e obesidade, provoca cólicas e maior produção de urina aumentando o número de despertares e criando um ciclo vicioso impedindo a consolidação do sono.

É de conhecimento geral que o hormônio de crescimento é secretado na fase IV do sono e isto gera preocupação quanto a possível privação de sono. Se a criança está ativa, alerta e brinca normalmente o volume de sono deve estar adequado. A maior quantidade de sono fase IV ocorre nas primeiras horas de sono, quando elas parecem dormir que nem pedra, garantindo o crescimento! Prejuízo no crescimento só ocorre nos casos de distúrbios de sono mais graves como na apnéia obstrutiva do sono. Crianças não devem roncar ou respirar apenas pela boca! Fica o alerta! Outras condições que merecem atenção médica e que podem interferir com o sono são refluxo, asma e alergias alimentares.
As famosas cólicas são causadas por um desbalanço entre as concentrações de serotonina e melatonina nos primeiros três meses de vida. A serotonina causa contração da musculatura lisa e a melatonina causa relaxamento. As cólicas refletem um processo fisiológico normal de desenvolvimento. Seu término coincide com a época de início da consolidação do sono noturno. É importante descontinuar as condutas adotadas na fase das cólicas para não inviabilizar este processo. Se não houver interferência dos pais, os bons hábitos de sono costumam se desenvolver normalmente. É importante reforçar que os hábitos de sono são aprendidos e se uma criança passou meses ou anos com um padrão inadequado, levará algum tempo para reaprender um novo padrão. Apenas a persistência poderá resolver o problema. O uso de medicamentos raramente é necessário. 
 Querida mamãe, se sua consciência não permitir deixar seu filho chorar um pouco para aprender a dormir, pense: Você também precisa dormir. Uma mãe que dorme bem terá paciência, bom humor, criatividade para brincar e estimular seu filho com todo amor e carinho no dia seguinte. Portanto durmam bem, mães e filhos!

Outras dicas para que os pequenos durmam bem:

1.        A criança deve aprender a iniciar o sono sozinha. Diante do choro condicionado o ideal é deixa-la chorar ou não atende-la imediatamente num processo gradual. O atendimento deve ser monótono e sem atrativos, apenas a presença no quarto até que fiquem quietas. No máximo um balanço suave no próprio berço, sem pegá-la no colo. Sair do quarto para que inicie o sono sozinha. Em caso de novo choro e nos dias seguintes demorar cada vez mais para atendê-la. A criança geralmente aprende a dormir sozinha em uma semana.
2.        Dissociar a alimentação do início do sono. Amamentá-la em outro ambiente e não permitir que inicie o sono no peito. Colocá-la acordada no berço e usar a mesma tática nos cochilos diurnos.
3.    Rotinas de ir para a cama devem ser rigorosas. O quarto deve estar silencioso, com temperatura agradável e luz reduzida. Fornecer uma refeição leve ou mamada antes, para que não vá dormir com fome.
4.        O banho é geralmente uma atividade estimulante para os pré-escolares e deve ocorrer 2 horas antes do sono. O superaquecimento da criança pode atrasar o início do sono.
5.        Colocá-la para brincar no sol logo que acordar. O cochilo diurno por necessidade ou hábito deve ocorrer no início da tarde, durando aproximadamente uma hora e sob a luz natural, para diferenciá-lo do sono noturno, ajudando assim a sincronizar o relógio biológico ao ciclo noite e dia.
       6.       Para dormir é necessário estar com sono e para que ele ocorra na hora desejada é necessário fixar o horário de acordar. Manter aproximadamente o mesmo horário nos sete dias da semana.
7.        A necessidade de sono vai diminuindo com a idade. Verificar a média adequada à idade e considerar todos os cochilos diurnos no cálculo. Cochilos de 10 a 20 minutos no carrinho, podem reduzir o sono noturno em horas. Dormir no final da tarde pode adiar o início do sono noturno em até 6 horas.
8.        Exercícios vigorosos devem ser evitados 3 horas antes de deitar. Evitar bebidas cafeinadas após o almoço, incluindo refrigerantes e chocolate.
9.        Televisão, computador, vídeo game e excesso de luz são atividades excitantes e devem ser desligados uma hora antes de deitar.  Desenvolver uma seqüência padronizada de eventos para preparar o sono como arrumar o material, beber leite, pijama, escovar dentes, ler ou escutar uma história, apagar as luzes, beijinho e boa noite!
Dra. Lucia Machado Haertel - Neuropediatra CRM 6338
Clínica Neurosaúde - Blumenau 
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