Vinte e seis de março é o dia mundial
de conscientização sobre a epilepsia, um distúrbio cercado de mitos e
preconceitos desde o Egito antigo. Ao longo de milênios de ignorância, várias
hipóteses foram postuladas para explicar as crises epilépticas: punição dos
deuses, incorporação de espíritos ou até mesmo, coisa do demônio. No Brasil do
século XIX, a epilepsia era considerada doença mental, relacionada à insanidade
e pasmem, à criminalidade. Os portadores eram internados em manicômios. Alguns
países esterilizavam os doentes mentais entre eles, os epilépticos, para que
não transmitissem a enfermidade. Foi neste contexto que nasceu o maior escritor
brasileiro: Machado de Assis.
Nascido sob condições adversas, suas
chances de ascensão social eram extremamente improváveis. Ele era franzino,
pobre, sem estudo regular, gago, descendente de escravos e ainda por cima,
epiléptico! Apenas um talento genuíno o faria superar o preconceito racial e o
estigma da epilepsia em plena época da escravidão no Brasil. Ele escrevia
maravilhosamente em todos os gêneros literários desde os 16 anos.
Nesta época não havia tratamento
eficiente e o escritor tinha que conviver com a angústia de ter uma crise
epiléptica a qualquer momento. Sua esposa e os amigos tratavam de socorrê-lo
evitando que o conhecimento do seu transtorno se espalhasse. A primeira
pergunta que fazia ao recobrar a consciência era: Alguém viu? Ele vivia
assombrado pelo medo da ocorrência de crises em público o que poderia resultar
numa internação em um manicômio.
Em 1896, Machado de Assis fundou a
Academia Brasileira de Letras. Conquistou seu espaço em um ambiente
extremamente intelectualizado e elitizado colocando abaixo todas as ideias
preconceituosas sobre superioridade social e racial. Tampouco a epilepsia o
impediu de demonstrar sua extrema inteligência e capacidade intelectual.
Felizmente a medicina evoluiu e
descobriu que a epilepsia é causada por um
distúrbio da atividade elétrica do cérebro.
Hoje existem medicamentos eficientes e a maioria dos pacientes leva uma
vida normal como outros portadores de doenças crônicas como o diabetes, a asma
e a hipertensão. A sociedade também
precisa evoluir e acabar com o preconceito milenar que atinge a epilepsia e
outros transtornos do cérebro.
Dra. Lúcia Machado Haertel - Neurosaúde - Blumenau (47) 3322-1522
Dra. Lúcia Machado Haertel - Neurosaúde - Blumenau (47) 3322-1522