Sempre achei que alguma coisa no cérebro de alguns alunos, daqueles
que prestavam vestibular para o ITA, era diferente. Esta diferença cerebral
parecia separar minha turma do terceirão em dois grupos: Os que gostavam de
matemática e os que gostavam do resto! Eu, claro, fazia parte do segundo grupo.
Afinal, o que há de diferente no
cérebro dos grandes matemáticos? Tal curiosidade fez com que o cérebro de
Einstein fosse retirado e estudado logo após a sua morte, em 1955.
Os primeiros estudos do cérebro
de Einstein foram decepcionantes: ele era menor do que a média masculina.
Pesava 1230 gramas aos 76 anos, o que corresponderia a um cérebro de 1352 na
adolescência. Nada excepcional. É o tamanho médio de um cérebro feminino.
Assim, temos nossa primeira conclusão: tamanho não é documento! O fator
determinante de sua inteligência não era um maior número de neurônios. Foi
observado que o lóbulo parietal superior direito, área cerebral relacionada ao
pensamento matemático e habilidades espaço-visuais, era mais desenvolvido do
que a média, contando com conexões mais numerosas e mais complexas entre seus
neurônios. Isso explicava suas
habilidades matemáticas superiores. Nesta área os homens costumam, realmente, ser melhores do que as mulheres. Mas se fosse apenas isto Einstein poderia ter passado a vida toda fazendo contas sem descobrir nada novo.
No entanto, Einstein não era
apenas um gênio da matemática. Sua inteligência era excepcional em termos globais, fato este, não explicado até recentemente. Um novo estudo do seu
cérebro* evidenciou que outra área cerebral, o giro frontal médio, era
extraordinariamente mais desenvolvida do que a média. Esta área é responsável
pelas funções mais complexas da mente humana: Atenção, organização de
informações, planejamento diante de um objetivo, resolução de problemas,
pensamentos complexos e abstratos, entre outros. Possibilita também outra
importante habilidade: a de imaginar eventos e prever suas possíveis
consequências. Isso sim explica muita coisa! Bem mais do que uma habilidade superior
na matemática. Esta área nos permite experimentar mentalmente. Para um
cientista, independente da área de atuação, a intuição e a imaginação são tão
importantes quanto o estudo. Estas habilidades nos permitem criar ideias
novas apoiando-se em conhecimentos prévios dentro de certa lógica. Possibilita
vivenciar mentalmente experimentos impossíveis de serem vividos na prática.
Einstein imaginava-se apostando corrida com um raio de luz ou acelerando-se
dentro de um elevador em direção ao espaço. Assim criava suas teorias, muitas
só comprovadas anos depois.
Foi considerado o maior físico
teórico de todos os tempos. Ganhador do prêmio Nobel, seu trabalho mudou as ideias vigentes sobre
espaço, tempo e matéria.
Vocês sabiam que o cérebro masculino
pesa, em média, 1,5 kg, enquanto o feminino, 1,3kg? Sim, o cérebro do homem é maior do que o da
mulher, tendo, em média, 15% de neurônios a mais. Nem pensem que isto seja uma prova
de que homens são mais inteligentes do que mulheres. O cérebro de Einstein
demonstrou que a inteligência não depende do tamanho do cérebro e de um maior
número de neurônios. O importante é onde estão localizados e a complexidade das
conexões entre eles, propiciando uma maior eficiência do trabalho mental. Em termos de inteligência global não há diferenças entre homens e mulheres. Einstein viveu numa época em que as mulheres não tinham as mesmas oportunidades e a ciência era dominada por homens. Com direitos igualitários, a mulher passou a conquistar espaço em todas as áreas, demonstrando que cérebros
excepcionais como o de Einstein existem independentemente do gênero do
portador.
Mas então para que servem estes 15%
de neurônios a mais da maioria dos homens?
Na verdade, tal excesso é
proporcional à maior massa corporal do homem, e está localizado nas áreas
motoras. Com tantos músculos, é necessário um número maior de neurônios para comandá-los,
melhorando assim a eficiência do trabalho braçal! Realmente, os homens são melhores
do que nós em rachar lenha, quebrar pedras, empurrar móveis, correr atrás de
baratas e carregar nossas sacolas de compras!
Amo muito a matemática cerebral!
Publicado no jornal "O Tempo"de Belo horizonte e na revista Tie Break de Blumenau
* dados científicos extraídos do artigo da revista Brain Journal of Neurology 2013:136;1304-1327
* dados científicos extraídos do artigo da revista Brain Journal of Neurology 2013:136;1304-1327