quinta-feira, 13 de março de 2014

O cérebro de Einstein





Sempre achei que alguma coisa no cérebro de alguns alunos, daqueles que prestavam vestibular para o ITA, era diferente. Esta diferença cerebral parecia separar minha turma do terceirão em dois grupos: Os que gostavam de matemática e os que gostavam do resto! Eu, claro, fazia parte do segundo grupo.  
Afinal, o que há de diferente no cérebro dos grandes matemáticos? Tal curiosidade fez com que o cérebro de Einstein fosse retirado e estudado logo após a sua morte, em 1955.
Os primeiros estudos do cérebro de Einstein foram decepcionantes: ele era menor do que a média masculina. Pesava 1230 gramas aos 76 anos, o que corresponderia a um cérebro de 1352 na adolescência. Nada excepcional. É o tamanho médio de um cérebro feminino. Assim, temos nossa primeira conclusão: tamanho não é documento! O fator determinante de sua inteligência não era um maior número de neurônios. Foi observado que o lóbulo parietal superior direito, área cerebral relacionada ao pensamento matemático e habilidades espaço-visuais, era mais desenvolvido do que a média, contando com conexões mais numerosas e mais complexas entre seus neurônios.  Isso explicava suas habilidades matemáticas superiores. Nesta área os homens costumam, realmente, ser melhores do que as mulheres. Mas se fosse apenas isto Einstein poderia ter passado a vida toda fazendo contas sem descobrir nada novo.


No entanto, Einstein não era apenas um gênio da matemática. Sua inteligência era excepcional em termos globais, fato este, não explicado até recentemente. Um novo estudo do seu cérebro* evidenciou que outra área cerebral, o giro frontal médio, era extraordinariamente mais desenvolvida do que a média. Esta área é responsável pelas funções mais complexas da mente humana: Atenção, organização de informações, planejamento diante de um objetivo, resolução de problemas, pensamentos complexos e abstratos, entre outros. Possibilita também outra importante habilidade: a de imaginar eventos e prever suas possíveis consequências. Isso sim explica muita coisa! Bem mais do que uma habilidade superior na matemática. Esta área nos permite experimentar mentalmente. Para um cientista, independente da área de atuação, a intuição e a imaginação são tão importantes quanto o estudo. Estas habilidades nos permitem criar ideias novas apoiando-se em conhecimentos prévios dentro de certa lógica. Possibilita vivenciar mentalmente experimentos impossíveis de serem vividos na prática. Einstein imaginava-se apostando corrida com um raio de luz ou acelerando-se dentro de um elevador em direção ao espaço. Assim criava suas teorias, muitas só comprovadas anos depois. 
Foi considerado o maior físico teórico de todos os tempos. Ganhador do prêmio Nobel, seu trabalho mudou as ideias vigentes sobre espaço, tempo e matéria.  
Vocês sabiam que o cérebro masculino pesa, em média, 1,5 kg, enquanto o feminino, 1,3kg?  Sim, o cérebro do homem é maior do que o da mulher, tendo, em média, 15% de neurônios a mais. Nem pensem que isto seja uma prova de que homens são mais inteligentes do que mulheres. O cérebro de Einstein demonstrou que a inteligência não depende do tamanho do cérebro e de um maior número de neurônios. O importante é onde estão localizados e a complexidade das conexões entre eles, propiciando uma maior eficiência do trabalho mental. Em termos de inteligência global não há diferenças entre homens e mulheres. Einstein viveu numa época em que as mulheres não tinham as mesmas oportunidades e a ciência era dominada por homens. Com direitos igualitários, a mulher passou a conquistar espaço em todas as áreas, demonstrando que cérebros excepcionais como o de Einstein existem independentemente do gênero do portador.
Mas então para que servem estes 15% de neurônios a mais da maioria dos homens?
Na verdade, tal excesso é proporcional à maior massa corporal do homem, e está localizado nas áreas motoras. Com tantos músculos, é necessário um número maior de neurônios para comandá-los, melhorando assim a eficiência do trabalho braçal! Realmente, os homens são melhores do que nós em rachar lenha, quebrar pedras, empurrar móveis, correr atrás de baratas e carregar nossas sacolas de compras!
Amo muito a matemática cerebral!


Publicado no jornal "O Tempo"de Belo horizonte e na revista Tie Break de Blumenau
* dados científicos extraídos do artigo da revista Brain Journal of Neurology 2013:136;1304-1327