quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Herança de família

Muito esquecido nos dias de hoje, o livro sempre foi presença marcante em minha família. Minha bisavó costumava receber escritores e intelectuais para animados saraus em sua fazenda em Minas Gerais.  Assim, seus filhos cresceram valorizando a leitura e muitos deles se tornaram escritores. Conviver com minha tia avó Lucia Machado de Almeida, conhecida escritora de Belo Horizonte, foi um dos grandes privilégios que tive na vida. Tinha um museu em sua casa e seu livro mais famoso, “O Escaravelho do Diabo”, marcou minha infância e será em breve lançado nos cinemas .
Meu tio avô, Aníbal Machado, também escreveu livros de destaque nacional. Grande mecenas da cultura, fundou para sua filha - a escritora e teatróloga  Maria Clara Machado - a famosa escola de teatro "O  Tablado" no Rio de Janeiro, onde estudaram os maiores atores brasileiros. Meu avô também publicou alguns livros. Contudo, sua maior importância foi estimular o gosto pela leitura entre seus filhos. Ele abriu uma conta numa livraria de Belo Horizonte e disse a meu pai: “Filho, você pode comprar todos os livros que quiser ler!”.
 Fiel à herança literária da família, Angelo Machado – meu pai, médico e neurocientista - publicou 44 livros, a maioria para crianças! 

Ganhou o prêmio Jabuti , o mais importante  da literatura brasileira . Um dia ele me disse a mesma frase: “Filha, você pode comprar todos os livros que quiser ler!” e eu, por minha vez, repeti a frase aos meus três filhos.  Minha primogênita Letícia foi o maior prejuízo, digo, investimento! Tornou-se uma devoradora de livros e era a cobaia do meu pai para o teste de suas histórias infantis antes da publicação. A danadinha aprendeu a ler aos 3 anos e aos cinco leu seu primeiro “livro grande”:  Harry Potter. Os mais novos foram pelo mesmo caminho e a fama de bons leitores fazia com que ganhassem dezenas de livros nos aniversários. E lá ia eu com sacolas cheias às livrarias para trocar os repetidos.  
Em 25 anos atuando como médica neurologista infantil, sempre busco estimular a leitura entre meus pacientes e percebo seu poder no desenvolvimento das habilidades de linguagem, memória, atenção, velocidade de processamento de informações e consequentemente na aprendizagem. Mesmo com toda a tecnologia moderna,  o melhor estimulante para o cérebro ainda é a leitura. 
              No futuro vejo-me sentada numa poltrona lendo um bom livro, cercada de netos folheando os seus livrinhos infantis. Um dos meus filhos chega e repete a célebre frase que marca nossa herança de cinco  gerações: “Filhos, vocês podem comprar todos os livros que quiserem ler!”.  

Publicado no jornal de Santa Catarina 14/03/2016

3 comentários:

  1. Parabéns, Lúcia! Que herança maravilhosa! Que perdure sempre está paixão literária! Bjs


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  2. Que maravilha ter Lucia Machado de Almeida e Angelo Machado como avó e pai! Ambos fazem parte de de minhas referencias literarias e cientificas. Parabens

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